sábado, 4 de dezembro de 2010

é culpa?

olhou pro lado e percebeu que ali ela não está,

ela não ocupa mais aquele lado da cama

agora aquele lugar é vago,

culpa das taças de vinho

das farras vividas,

dos telefonemas que ele não deu,

das noites em que ali ele também não dormiu,

daquele perfume impregnado no colarinho,

das mentiras que vieram a tona.

- É culpa de quem?

ele indaga o travesseiro que não respondia nada.

-É minha culpa?É?me diz!

Dizia como se o travesseiro fosse ela

-e você? e as inúmeras vezes que você saia com as amigas?

e eu ficava aqui, o que me diz?

o desespero fez ele dialogar com algo que não se comunicava

- fala alguma coisa.

e nada.

-A culpa é sua!

Deu o ultimo grito se levantou foi até a cozinha tomou um café um remédio pra dor de cabeça e foi pra sala, deitou-se no sofá ligou a TV e deixou no mute, ele só queria adormecer de novo

acordar e perceber que tudo isso foi um sonho.

de repente um barulho e a porta se abre.

-oi

disse ela olhando pro chão, ele se levantou na hora e tentou parecer bem

-oi, não esperava que viesse aqui, eu não fiz nem café ainda espera que vou passar um café pra gente

- eu não quero, só vim pegar umas coisas,

- tudo bem.

ele foi pra cozinha e ela pro quarto, cada um no seu silêncio, cada um tentando agir naturalmente.

ele claramente mais abalado, ela um ar como se não se importasse com nada.

-É culpa de quem?hein?é minha culpa?

e você? e as inúmeras vezes que você saia com as amigas?

e eu ficava aqui, o que me diz?

eu sempre fiz tudo pra você e é assim que você age comigo?

me desculpa? eu ainda te amo, não consigo ficar sem você,

me desculpa eu prometo que será diferente,

que a gente vai ser feliz, eu juro.

ele pensou em dizer tudo isso, mas as palavras não saiam de sua boca.

-bom eu ja vou indo

-espera eu faço um chá pra você, ainda tem o seu preferido,

-desculpa, mas tem alguém me esperando la fora,

-então quer dizer que...

-não quer dizer nada, é a Ana aquela minha amiga

-a gente pode marcar pra conversar?

-eu não tenho mais nada pra falar com você

ele respirou olhou nos olhos dela criou coragem e disse

-eu te amo

ela olhou pra ele respirou fundo segurou as lágrimas que queriam cair e respondeu

-ainda tem umas coisas minhas aqui depois eu venho buscar, ou mando alguém vir pegar.

-não, espera um pouco

-pra que? eu te esperei muito tempo e não serviu de nada

-eu tenho um presente

-vai rápido.

ele largou a caneca em cima da tv e saiu correndo pro quarto, voltou na mesma velocidade que foi trazendo nas mãos uma carta, ele entregou a carta olhou nos olhos dela e não disse nada,

ela por sua vez retribuiu o olhar e disse:

-obrigado, mas eu não posso aceitar.

-leva e lê quando quiser e se quiser, mas leva.

ela colocou a carta na bolsa e foi embora, ele na porta observou ela descendo as escadas, depois voltou pra cama deitou olhou pro lado puxou o travesseiro dela e disse bem baixinho

-é minha culpa.


Henrique Rímoli

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